A menina que olhava pela janela achava aquilo incompreensível. Preferia ficar ali, naquela janela observando, a ter que se enquadrar em uma daquelas duas opções. Porque ela não podia seguir para qualquer lado? Porque teria sempre que ir ou para a direita ou para a esquerda? Haviam tantas possibilidades... Quem determinava aquela ordem? Sem encontrar respostas, permanecia observando da sua janela, aquelas pessoas tristes seguindo aquele enquadramento. Porem a menina havia percebido que, de tempos em tempos, as pessoas do vilarejo ficavam rodopiando sem rumo, perdidas sem saber qual seria agora a sua direção, isso durava alguns meses, mas, assim que as eleições acabavam os rumos predeterminados retornavam e a rotina de esquerda e direita recomeçava cansativamente, tristemente... A menina percebia que algumas pessoas que antes circulavam pela esquerda, após esse momento, mudavam para a direita e vice e versa, mas jamais saiam do rumo ou simplesmente paravam em um determinado local. Pareciam temer alguma coisa, mas afinal o que seria?
Um belo dia, a menina ousou sair daquela janela, foi para o meio da rua e ali ficou. A menina começou a declamar uma poesia e, como num passe de mágica, as pessoas que seguiam, cada uma para o seu lado pré-determinado, foram parando e ficando, encantados com a beleza das palavras proferidas pela menina da janela... E naquele dia um milagre se fez, logo um rapaz apareceu com um violão e cantou tão bonito que mais pessoas pararam para ouvi-lo, um artista plástico chegou com suas tintas e pincéis e começou a transpor para a tela toda a beleza da paisagem daquele vilarejo, um palhaço surgiu, sabe-se lá de onde, e encantou a criançada do local... Quando as pessoas se deram conta, tanto as da direita quanto as da esquerda estavam juntas, algumas emocionadas choravam, outras sorriam e daquele dia em diante nunca mais elas permitiram que lhes ditassem o caminho.
O vilarejo prosperou, as pessoas hoje andam para o lado que mais lhes agrade e a menina da janela só observa os pássaros e a beleza daquele vilarejo que aprendeu a amar tanto...
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